Princípios da dobra como método de desenho na Litografia.
A exatidão dos teores matemáticos é espantosa. Coisa que para alguns ou tantos é visto claro, aqui se marca pelo arrebatamento. A folha de papel é uma condicionante básica, é um momento concreto da abstração. No universo da geometria um infinito de pontos pode formar retas em todas as direções, e com isso posso traçar o desenho que imaginar no plano abstrato. Ter uma lâmina retangular que se dobra e desdobra na mesma dimensão que a minha, promove uma sensação de revelação no presenciar do fenômeno que põe em suspensão o modo estático de ler um desenho. Ao dobrar uma folha de papel, como num gesto de desenho cego, conto com leis e regras que não calculo previamente. Dobrar o papel, imprimir seus novos planos achatando-os na prensa é o que foi se tornando um método de desenho no exercício de uma arte gráfica tão antiga, a litografia. Na litografia a gravura é impressão de matriz pedra, multiplicante de imagem ou escrito. Porém aqui cada folha impressa origina uma figura, a prensagem demarca o desenho a partir de cada nova dobra e da combinação de encaixes e entintagens diferentes. A folha de papel é instrumento de desenho determinante, atua como matriz fugaz na ordenação da corporatura. Se trata de marca, de prova, de sinal. A medida de uma dobra sobre a outra na soma da espessura do papel ao acomodar dessas camadas promove encaixes imprecisos, lascas de tinta, linhas rarefeitas e trilhas topológicas. A tinta pressionada no papel atravessa a fibra, mancha e expande. O papel talvez tenha virado música, só vale no tempo. Do ponto dobrado ao ponto aberto existe um percurso. Contrair – dilatar. Músculo, coração, pulmão. Sanfona, saia plissada, leque. E caminhando assim, há meditação. Em simetria um eixo baliza e distribui um tanto e um quanto, tornando mais mortal a imagem criatura. Em assimetria alastra sinistro e arquitetônico espelho. A matemática não parece idéia do homem Misterioso e elegante exercício Misteriosa e elegante matéria E se o papel for sensibilizado e exposto a luz em dobras não é mais a impressão que estampa a superfície, uma reação química é responsável pela ascensão da grafia. Um gradiente de cinzas do branco ao negro expõe as variáveis de intensidade que a luz toca as faces no papel que age como instrumento filtro além de suporte.
Texto integrante do Livro A Dobra do Raciocínio Geométrico