Trair a espécie, 2013
Inhames e hastes de metal
1. O humano ocidental sempre teve medo de ser bicho, de aceitar-se como animal. Tudo que se parece com isso é escondido, excluído, e os próprios animais são escravizados e extintos, servindo apenas às necessidades humanas. As manifestações sobrenaturais também são tratadas com ignorância maestral, ao ponto de serem consideradas como algo à parte da vida. Nas grandes cidades onde vivemos, estamos distantes da presença constante dos bichos e dos espíritos ou manifestações ocultas. Mas o Deus é desejado, o Deus é idealizado, Deus é o que o ser humano quer ser e não aceita. Aceite seu inferno! Traia seu paraíso. Ao mesmo tempo ele não percebe que já o é, sempre foi. Porém também é Deus o bicho, a planta, a pedra.
2. Mesmo em tempos de degenerescência minha dor é presente. Celebrar a miséria é para muitos uma forma de estar de acordo com seu tempo. Os posicionamentos se acanham não somente pelas decepções mas também pelas ilusões. A mim haveria de escolher entre a desistência ou a máquina. Nada. Uma fuga possível, trair a espécie e me deixar crescer para alturas ou infinitos abismos. Mas nada disso, a planura é como a impressão de um rabo de luz, e aí está, para aqueles que também sonham acordados. Caminhar pela cidade é o que posso fazer para me conectar com uma prática meditativa do corpo para fora. Em estado de atenção olhar para além da primeira camada de significado, suspensão das definições. Liberdade da forma. Assim, no amolecimento de tudo que vemos, antes da atribuição de valores e sentidos conseguimos acessar nós mesmos no outro, por sua condição oca, aberta, transparente.